Ao longo de oito anos trabalhando com pesquisa histórica e iconográfica para escritórios de arquitetura, editoras, audiovisual e outras instituições públicas e privadas resolvi reunir histórias e contá-las porque, afinal de contas, não adianta pesquisar e escrever sobre qualquer assunto e ter como destino uma gaveta em um fundo de armário.
Cada pesquisa ilustra a riqueza do patrimônio documental brasileiro, seja por meio da cultura material, seja nas marcas deixadas por testemunhas oculares da história cujos vestígios encontramos nos acervos através das fotografias, textos, desenhos, plantas de arquitetura bem como nas crônicas e notícias publicadas em jornais. A proposta desse espaço on-line é tornar-se, cada vez mais, um lugar onde você sinta o prazer de conhecer histórias por meio do tesouro documental guardado nos diversos arquivos públicos e privados brasileiros. Longe de propor que o documento fala por si ou mesmo por um tempo, proponho olhar para o objeto de pesquisa como representação da cultura material de um período, ao qual chamo "camada", aludindo à rotina da prospecção estratigráfica na arquitetura em um projeto de restauração do patrimônio cultural.
Imagina uma parede recebendo tinta ao longo de 165 anos de histórias?
Como saber a cor original daquela superfície? Somente é possível identificar com a técnica de abertura de janelas de prospecção estratigráfica, a qual consiste na remoção camada a camada de estratos pictóricos para a análise da cor mais próxima ao original. Assim como a tinta, cada tempo tem uma espessura e vitalidade própria, difícil de compreender sem uma boa dose de sensibilidade. Não se trata de reconstituir hábitos, costumes e gostos do Rio de Janeiro no passado e, sim, de ler o tempo por meio de narrativas construídas por testemunhas oculares sobre os acontecimentos marcantes no cenário sociopolítico e cultural, vivenciados pela crescente sociedade burguesa. Imagens, textos e testemunhos orais são importantes evidências históricas, recortes e registros dos homens no tempo e no espaço. Neste sentido, ao iniciar uma pesquisa histórica e iconográfica sobre qualquer objeto procuro entender o seu contexto para entender o propósito da sua existência.
E depois, camada a camada de tempo, vou abrindo outras janelas de compreensão.
Texto de Veronica Castanheira Machado
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